Uma das grandes vantagens de ser uma observadora incógnita é poder julgar com mais isenção os estabelecimentos. Afinal, atuando de forma anônima, ninguém se esmera para oferecer, em minhas visitas, um atendimento superior ao normalmente dedicado aos clientes mais diversos. Assim, arrisco a afirmar que o encantamento absoluto que experimentei no Parigi deve ser o padrão da casa.
O Parigi é desses lugares em que o preço não é o maior atrativo, mas que não se pode deixar de conhecer. A casa, do infalível grupo Fasano, fica, desde 1998, no coração do Itaim Bibi, em São Paulo, mas fala-se que desembarcará em breve também no Rio. Tem decoração elegante, que privilegia os tons e madeiras escuras, num clima quase austero, que remete aos antigos bistrôs parisienses. E o cardápio, comandado pelo chef Eric Berland, torna contemporâneos alguns clássicos italianos e franceses.
Mas comecemos pela ordem e falando da comida. Afinal, é isso, na essência, o que um restaurante se propõe a oferecer. O couvert veio abalando, sem necessidade de malabarismos: bruscheta de tomates crocante e saborosa, crisps de batatas, manteiga, patê e pastinha de ricota com pão da casa. A delícia do básico perfeito. Tão bom que, satisfeitos, eu e meu acompanhante secreto decidimos passar direto ao prato principal – as entradas terão que ficar para uma outra vez.
Ele cometeu a ousadia (ou heresia?) de pedir alterações num prato do cardápio. Sempre acho um desperdício de oportunidade interferir nas apostas de um chef tão respeitado e duvidei da boa vontade da equipe em acatar, mas a reação foi firme e acolhedora. “É claro, senhor!”. Assim, meu marido secreto recebeu seu spaghettini apenas com camarões e pomodoro. Saboroso e suculento na medida.
Minha escolha foi mais difícil, entre os raviólis de queijo brie sobre salada de rúcula e com molho de manteiga, parmezão e pinolis e a versão recheada de vitela assada com molho de funghi. Pedi a ajuda do maître que, sem pestanejar, sentenciou: “sem dúvida, peça o de vitela!”. Diante de tanta convicção, aceitei a sugestão. De fato, maravilhosa. Um segundo maître, atento à conversa, se aproximou, alegando que não podia deixar de opinar. Disse que ele, se consultado, e fiel às suas origens mineiras, orientaria a escolha para a versão da massa recheada com queijo brie, diferentemente de seu colega, gaúcho, portanto mais tendente às carnes. Combinei de experimentar na próxima visita.
Mas, para minha surpresa, depois que havia terminado meu prato e antes de pedir a sobremesa, o maître mineiro ressurgiu com a gentileza inesquecível: uma mini porção do ravióli que havia sido preterido. Afinal, segundo ele, não poderia me deixar partir sem provar sua sugestão. Delicioso. Ambas as escolhas teriam sido certeiras, especialmente acompanhadas de um dos bons vinhos da carta.
Por fim, o sabor mais inesquecível da noite: creme de mascarpone com chocolate. E ainda com carinho extra: decididos a compartilhar a sobremesa, recebemos nossas metades lindamente decoradas, versões menores da porção completa. Não tenho como descrever o sabor dessa iguaria, dica de ouro para afastar qualquer tristeza do coração.
A noite foi mais que perfeita. Gastronomia, ambiente e a equipe – ah, a equipe! Serviço “padrão rainha” – embora anônima.
O melhor: o atendimento e o creme de mascarpone e chocolate
Pode melhorar: nossa, dessa vez ficou impossível apontar… Parabéns!
- O couvert
- O spaghettini ao camarão
- Os raviolis de vitela
- O creme de mascarpone e chocolate





