Mendoza é linda no inverno e no verão. No calor, as parreiras estão carregadas e pode-se até assistir às colheitas das uvas. No frio, há a possibilidade de mais contato com a neve, não apenas as eternas do alto do Aconcágua. Minha opção foi pelo inverno (ou pré-inverno): começo de junho.

Antes de sugerir um roteiro, vale a pena passar algumas dicas:

– Dica 1 – A grande experiência em Mendoza é se hospedar numa vinícola. Mesmo fora do período de colheita, as paisagens e a tranquilidade são maravilhosas. Naturalmente, os preços nessas acomodações são superiores aos dos hotéis do Centro da cidade. Minha sugestão é equilibrar as duas coisas: permaneça no Centro apenas nos dias de passeios longos, em que só se volta ao hotel para dormir. E reserve alguns dias e recursos para permanecer numa vinícola.

– Dica 2 – Na cidade de Mendoza, escolha um hotel no Centro. Há alguns confortáveis e com bons serviços, mas afastados, como é o caso do Intercontinental. Não vale a pena, pois a dependência do taxi é desagradável e onerosa e caminhar pela cidade é um prazer.

– Dica 3 – Moderação nas visitas a vinícolas. Elas são inúmeras, dividas por três regiões, e é comum ver viajantes ávidos por conhecer o maior número possível delas, o que se torna exaustivo e repetitivo, num esquema olha, escuta, bebe e sai correndo. Prefira visitar poucas, porém com mais calma, saboreando de fato.

– Dica 4 – Embora a cidade seja bonita, arborizada no meio do deserto e com pontos turísticos como o Cerro de La Gloria e o Parque General San Martin, não vale dedicar muito tempo a conhecê-la em detrimento de outros programas. Para quem quer uma panorâmica, há ônibus turísticos daqueles de dois andares.

– Dica 5 – Pode optar sem medo pelos tours mais simples e baratos nas vinícolas, a não ser que seja um enólogo ou pretenda se tornar um. O número de rótulos disponíveis é menor, mas o passeio é o mesmo e você terá muitas chances de degustar outros vinhos em seus passeios pela região.

– Dica 6 – Agende as visitas às bodegas com bons intervalos entre elas. Além de não serem tão próximas umas das outras, não é agradável fazer tudo correndo para cumprir o agendamento. E os mendozinos são pontuais.

– Dica 7 – Dá para chegar às regiões de vinícolas de carro alugado (mas lembre-se de que vai beber) e há várias agências de turismo que fecham passeios. O taxi também não é má opção, mas escolha bem, pois a frota local está bem desgastada. E não dispense o uso de aplicativos de localização, pois são muitas vinícolas e os motoristas nem sempre as conhecem.

– Dica 8 – Agende as visitas a bodegas, para não se decepcionar. Algumas reservas podem ser dois dias antes. Outras, como a Catena Zapata, muito querida dos brasileiros, requer quase dois meses de antecedência nas altas temporadas.

– Dica 9 – Várias vinícolas oferecem tours especiais com almoço ou piquenique. A ideia é simpática e os restaurantes são muito reputados. Por outro lado, esses almoços são longos e fartos, dispensando o jantar. Vale abrir mão desses almoços e investir nos jantares – há ótimos restaurantes na cidade. Ou, ao contrário, adotar o almoço prolongado nas vinícolas e dispensar o jantar. Ou alternar…

– Dica 10 – Temos a tendência de procurar, em Mendoza, vinhos que já conhecemos, importados para o Brasil. Porém, aventure-se a experimentar rótulos e produtores que são novos a nossos olhos e reservam ótimas surpresas.

– Dica 11 – Há um conjunto de lagos quentes – as Termas Caucheta. Dizem que é um lugar lindo e relaxante, porém sempre cheio, e o passeio leva um dia inteiro. Caso se anime a conhecer e quiser mais tranquilidade, saiba que há um SPA lá, no qual dá para aproveitar as águas termais e almoçar também – http://www.termascacheuta.com/

– Dica 12 – Dica 11 – O roteiro abaixo é de oito dias (incluindo um de ida e um de volta). Mas dá para fazer o passeio em menos um dia (eliminando a região vinícola de Maipú), ou mesmo em menos três (se não for se hospedar numa vinícola).

Mas, se for abreviar, minha lista de imperdíveis é a seguinte: o passeio ao alto da montanha (Aconcágua), um mínimo de quatro vinícolas bem diferentes entre si, os restaurantes 1884, Sete Fuegos, Azafrán e La Lucia e a hospedagem numa vinícola.

Mas vamos lá, numa sugestão de programação:

– 1º. dia – Chegada ao hotel. Se tiver tempo, vale uma voltinha a pé pelas proximidades do hotel ou um tour no ônibus turístico, para uma panorâmica da cidade. À noite, jante no Azafrán Restô. Charmoso, agradável e com ótima comida, tem uma adega farta em rótulos conhecidos dos brasileiros e outros totalmente novos para nós. Uma simpática somelier ajuda na escolha do vinho e a ideia é degustá-lo lá mesmo, durante o jantar. É bom fazer reserva para não arriscar: http://azafranresto.com/ – Av. Sarmiento, 765 / tel. +54 (261) 4294200 / 4299009 / reservas@azanfranresto.com

– 2º. dia – Eleja duas vinícolas para conhecer na região de Lujan de Cuyo. Sugiro a Chandon e a Terrazas de Los Andes, ambas pertencentes ao grupo LVMH (Louis Vuitton). Visitando as duas, dá para entender o processo de produção de espumantes na primeira e a de vinhos “tranquilos” (sem borbulhas) na segunda – são bem diferentes. A Chandon, especialmente, é belíssima. Fui de táxi (cerca de 300 pesos). Após o tour, é uma delícia permanecer pelos jardins, observando e relaxando. De lá, um funcionário chamou outro táxi com destino à Terrazas, bem próxima. Em ambas, faça o tour com degustação. – https://www.terrazasdelosandes.com/pt/www.chandon.com.ar

Outras bodegas na mesma região, que não conheci, mas são muito recomendadas:

– Catena Zapata – http://www.catenawines.com/

– Ruca Malen – http://bodegarucamalen.com/

– Dominio Del Plata (onde fica o restaurante muito recomendado Osadia de Crear, da enóloga Suzana Balbo) – www.dominiodelplata.com.ar

– Viña Cobos – http://vinacobos.com/pt-br/

À noite, jante no 1884, do premiado e badalado chef Francis Mallman. Mas prepare a carteira e faça a reserva antes – https://1884restaurante.com.ar/

3º. Dia – Faça o clássico passeio “Alto da Montanha”, que vai até o Parque Provincial Aconcágua. O passeio dura o dia inteiro (coisa de três horas para ir e três horas para voltar, além do tempo que se fica no Parque). Mas é MA-RA-VI-LHO-SO, mesmo para quem já teve contato com a neve. O caminho é lindo e a estrada é boa. No parque, vale ficar umas duas horas apreciando, caminhando, fotografando, aproveitando o silêncio, relaxando… Muito bom!!

Há várias empresas que fazem esse passeio com pequenos e grandes grupos, mas elas oferecem também a opção de carro exclusivo, para até quatro pessoas além do motorista. Eu e meu “marido secreto” optamos pelo último. Um pouco mais caro, mas vale a pena, pela pos

sibilidade de administrar o próprio tempo e as paradas. O almoço não é incluído no tour, mas os guias param e sugerem restaurantes numa pequena cidade no caminho. Se for investir no jantar, opte por beliscar empanadas. Na volta, há uma parada na Puente Los Incas, ruínas lindas para tirar belas fotos.

A empresa que utilizamos e que super recomendo é a Nossa Mendoza – www.nossamendoza.com – info@nossamendoza.com. Agendei dois dias antes. E nosso guia, ótimo, chamava-se Tito. Dá para fazer esse passeio alugando um carro e com a ajuda de um GPS. Mas é legal ir com o guia, que mostra as atrações do caminho, além de garantir o retorno quando bate o cansaço.

Prepare sapatos adequados, casacos, cachecóis e até luvas, pois, além da baixa temperatura, rola um ventinho congelante.

À noite, recomenda-se o Maria Antonieta Restô. Digo “recomenda-se” porque eu, particularmente, não recomendo. A comida veio meio fria e sem grande sabor, o atendimento foi nada mais que civilizado. Pode ser que tenha pegado um mal dia, então o site é: http://www.mariaantonietaresto.com.ar/

4º. Dia – Vá conhecer outra região vinícola – Maipú. Alugue uma bike no Mr. Hugo e vá pedalar. Pode-se agendar visitas a vinícolas, mas é gostoso pedalar sem rumo, inclusive por algumas vinícolas que ficam abertas e também por oliveirais (a região também produz azeites). Há restaurantes simples na região, para dar uma enganada.

À noite, jante no excelente La Lucia. Comidas (foco em carnes) deliciosas, atendimento cuidado, ambiente bacana. Conheci a unidade que fica bem no centro (Av. Sarmiento), mas há mais duas – http://www.laluciagrillbar.com.ar/

5º. Dia – Faça check out no hotel e parta para a terceira região de vinícolas – o Valle del Uco. É a mais jovem das três, lindíssima! Fui de ônibus intermunicipal, super confortável, até a cidade de Tunuyan e depois pegar um taxi, que fica carinho, pois o hotel é longe da rodoviária. Ou fechar a ida com uma das agências. Ficamos no Alpasion Lodge (alpasion.com). O hotel é ideal para descansar e contemplar, bem reservado e romântico. São apenas seis acomodações, super confortáveis, chiques e lindas, no estilo rústico. Dá para se sentir em casa. Mas se a ideia é mais movimento, não é o local certo. E ele não fica próximo de qualquer lugar movimentado. O silêncio permite escutar os pequenos roedores que habitam os vinhedos. Com sorte, dá para ver a raposinha da região, que não gosta de se exibir. Renda-se aos cuidados e mimos da equipe, mais que excelente, até com um chef à disposição (o restaurante abre nos finais de semana para não hóspedes). Numa das noites, o jantar, divino, foi feito somente para mim e meu “marido secreto”. Lugar para ser feliz!

6º. Dia – Vá conhecer o incrível e badalado The Vines of Mendoza. Hotel top dos tops, pertinho do Alpasion, com 30 acomodações bem independentes. Para quem gosta de mais movimento e extrema sofisticação e conforto e não tem problemas de orçamento, vale ficar hospedado lá. Se não for o caso, agende o tour de vinhos com degustação (que tem até bons queijinhos para acompanhar). Foi a melhor visita da viagem. A mais ilustrativa, muito interessante. E o lugar é indescritível. Depois da degustação, faça uma horinha contemplando a paisagem e almoce lá mesmo, no restaurante Sete Fuegos, do mesmo chef do 1884, Francis Mallman. Caro mas inesquecível! Comida, atendimento, lugar, pessoas. Vale economizar em outras coisas e não deixar passar – http://www.vinesresortandspa.com/

À noite, depois de um almoço incrível, basta um lanchinho de empanadas que, no nosso caso, foram assinadas por nosso “personal chef”.

7º. Dia – Dia de pedalar pela região (o hotel tem apenas duas bikes, que empresta sem custo) e/ou aproveitar o descanso no hotel, lendo um bom livro ao som de ótima música e passear pelos vinhedos Alpasion. Pode-se conhecer a cidadezinha que fica perto de lá, de carro (nada imperdível, apenas bonitinha). À noite, jantar no próprio hotel.

8º. Dia – Check out e rumo ao aeroporto… snif…

Bon Voyage!!